sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Aborto retido




 Estou a contar a minha história porque quando procurei informação, encontrei muito pouca coisa, e para quem nunca ouviu falar de um aborto retido, é um pouco assustador receber essa noticia, sem saber bem o que vai acontecer ou o que realmente significa. 

Tudo começou na primeira consulta da minha tão desejada gravidez, quando o médico ficou, um pouco de tempo a mais do que para mim seria normal, a olhar para o ecrã sem nada dizer. E quando falou disse: "Precisava de mais uma semana para ter certeza, mas parece que o embrião pode não estar a evoluir".

Eu não queria acreditar no que estava a ouvir, o meu maior medo estava a acontecer, porque eu tinha tido outro aborto há menos de um ano, e desta vez estava muito confiante que ia dar certo, embora sempre com aquela vozinha, a dizer que podia voltar a acontecer.

Vou contar-vos então o que se passou a seguir.

O médico pediu para fazer uma analise ao Beta HCG, e repetir dois dias depois, para ver qual era a evolução, nesses dois dias, isso diria se a gravidez estava a evoluir ou não, se não fizesse a analise teria de esperar uma semana para repetir a eco. 

Foram dias de muita ansiedade, e tristeza, até que se confirmou que a gravidez não estava a evoluir. 

Fiquei completamente sem chão, revoltada porque me estava a acontecer novamente aquilo, eu via a minha gravidez como o meu pequeno milagre, e de repente fiquei sem chão. 

O medico disse-me para voltar a repetir a eco no dia em que fazia uma semana da primeira eco que fiz.

Lá fui repetir a eco a sentir-me tão vazia, tão sozinha, ao pé das outras mães grávidas com os seus bebés na barriga. 

E confirmou-se na eco, que não estava mesmo a evoluir. O médico mandou-me esperar duas semanas, e se não saísse nada teria de colocar uns comprimidos para forçar. 

Foram as duas semanas mais complicadas de sempre, a dor psicológica e o saber que o bebé ainda estava ali, mas já não era meu. Porquê a mim, porquê outra vez, muitas perguntas andavam na minha cabeça, e também o receio do desconhecido, o que me iria acontecer? Se infetasse e tivesse de ser operada? 

Duas semanas se passaram e nada aconteceu, falei com o medico que me deu a receita dos comprimidos, para colocar na vagina, durante 3 dias.

No primeiro dia, comecei logo a sentir dores embora não muito fortes ao inicio, mas passado algumas horas as dores aumentaram muito mesmo, tipo as dores de período mas muito fortes mesmo, e comecei a sentir que algo ia sair e fui à casa de banho, começou a sair sangue, à medida que as horas iam passando as dores aumentavam e a quantidade de sangue também. Pedi ao meu companheiro para ficar ao meu lado, pois ouvi alguns casos de raparigas que desmaiavam. Fui sempre bebendo água com um pouco de açúcar, e embora me sentisse tonta já para o final do dia, nunca senti que ia desmaiar, mas o meu corpo estava exausto, as dores, o sangue que não parava de sair, as idas à casa de banho constantemente, foi bastante horrível, não conseguia dormir, e só consegui sossegar lá pelas 4h da manhã. 

No dia a seguir as dores continuaram fortes, embora não tão fortes como no dia anterior, a sensação é que vamos ter bebé a qualquer momento, mas deitada no sofá sossegada, as dores eram suportáveis, e consegui dormir de noite. Ao terceiro dia voltei ao hospital para fazer eco e ver se estava a sair tudo e não estava a infetar. 

O médico confirmou que estava a sair tudo, e que para o que restava em principio não seria necessária a cirurgia, que era o meu maior receio. Mandou-me colocar os comprimidos ainda mais dois dias, embora mais espaçados do que anteriormente. Nesses dias tive dores, mas diminuíram um pouco em relação aos dias anteriores. 

Uma semana depois voltei a repetir a eco e felizmente tinha saído tudo, o pouco que lá estava sairia na próxima menstruação. 

Confesso que senti um grande alivio nesse dia. 

Também senti que tinha acabado, o que permitiu viver o luto e deixar ir. 

As semanas seguintes foram de recuperação, fui muito abaixo em todo o processo, tanto fisicamente como psicologicamente. É muito duro. 

Para mim estar perto do mar, meditar, caminhar, ajudou bastante. De vez em quando ainda sentia vontade de chorar, quando via alguma gravida ou assim, mas no geral recuperei bem de tudo. 

É um processo que nenhuma mulher devia passar, muito doloroso a todos os níveis, mas na verdade há mesmo muitas mulheres a passar pelo mesmo, não tinha ideia que fosse tão comum. 

E se estás a passar por isso agora, acredita que por pior que possa parecer, vai passar e tudo vai ficar bem outra vez. 







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